Páginas

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

FHC x LULA e o Orgulho de Ser Brasileiro

Passado o período eleitoral, ainda estão vivas na cabeça de muitos as comparações econômicas feitas entre os oitos anos do governo FHC e os oito da era LULA.  Mas, e embora sejam gritantes as diferenças nesse campo, não só aí se distanciam os efeitos do projeto do PSDB e do PT: a auto-estima do brasileiro mudou e muito.
Nos idos de 94, o Brasil elegeu o intelectual da USP, sociólogo, poliglota e até ex-professor da Universidade de Paris, Fernando Henrique Cardoso, alguém de quem os brasileiros poderiam se orgulhar em ter como representante (assim muitos pensavam e pensam). No seu primeiro mandato, FHC consolidou o plano real, estabilizou a economia brasileira, livrou-nos da inflação galopante, emparelhou o Real com o dólar e fez até propaganda da nova moedinha, representada por uma figura feminina, fazendo charme e flertando Washington – aquele que aparece nas verdinhas americanas. É! Ele fez isso, mérito dele, mérito do plano real. A classe média, então, é quem mais aplaude, feliz em poder debutar na Disney... uma loucura.
Nesse mundo machista, as mulheres bem sabem, o flerte não é a melhor política, e geralmente o homem leva a melhor. O real flertou com o dólar e os brasileiros, na mesma onda, flertaram com o mundo, sem nenhuma austeridade. Resultado? Foram aceitas as privatizações; telecomunicações e eletricidade vendidas. Até a Vale, maior mineradora do mundo, que só no seu estoque tinha riquezas suficientes para pagar o preço pelo qual foi comprada. Venderam a preço de banana, sem regulamentação séria, sem estipulações de retorno ao brasileiro, diversas de nossas riquezas e o que era verde e amarelo deixou o “bras” – até a Petrobras ia virar Brax, lembram? – do nome pra vestir as cores do mundo azul, vermelho e branco, e lucros tirados do suor de nosso trabalho, foram dar um passeio permanente em Miami e outros tantos lugares in, um pouco depois em 98.
Fosse só esse o resultado, já seria horroroso. Mas é mania de yankee vender tudo em combo; e aí, com uma balança comercial completamente desequilibrada pela falsa estabilidade do dólar e juros ainda muito altos, as dívidas interna e externa deram saltos desses de ginasta olímpico – incríveis –  e a economia “organizada” começou a desandar. Não é assim com panela que muito se meche?
Em 99, já no segundo mandato do príncipe dos sociólogos, situação era terrível. A especulação financeira no Brasil era descarada, e os volumes retirados do país em 98 levaram FHC ao seu óbvio destino, às portas do FMI para tomar empréstimos os quais sempre vinham com exigências nada agradáveis e a marca da subordinação econômica e política.      
No fim do mandato, eis um legado pra o Brasil inteiro se envergonhar: inflação a 12,5% ao ano, dólar a R$ 3,94, crescimento do PIB de 2,7 %, desemprego em 12,7% e o risco país em 2436 pontos.
Diante disso, em 2002, o resultado das eleições não podia ser outro: Lula lá! A estrela brilhou (hoje sabemos o quanto) e, na saída do intelectual, entra na presidência um torneiro mecânico que toma cachaça e fala um monte de coisa errado – quanta coisa pra se envergonhar, né? (Paulistas como Mayara Pretuso que o digam).
Mas o torneiro mecânico de burro não tinha nada. Com dez anos de muitos estudos acumulados sobre o Brasil, logo resolveu mostrar ao mundo o que é ser brasileiro.  Comprou um avião novinho (e malharam o cara por isso, viu?) pôs um monte de empresário brazuca dentro e foi apresentá-los ao mundo que não é só europeu, nem americano, aumentando em muito o comércio exterior e diminuindo a dependência que tínhamos. Aqui dentro, começou a investir em infraestrutura para o país inteiro, desenvolvendo um Brasil que vai além de Sul/Sudeste; criou o Bolsa Família que injetava no mercado interno mais de 400 bi ao ano e aumentou também o salário mínimo, gerando mais produção e com isso mais empregos, que geram mais produção e mais empregos, olha a bola de neve...
Com o crescimento em alta, o nordestino não perdeu tempo, chamou o FMI, pagou o que devia, e já que não deviam mais nada, começou a cobrar respeito do mundo: enquanto o sociólogo falava mal da gente lá fora e só era aplaudido pelo seu perfeito Francês, saudando à França, o torneiro mecânico começou a ser aplaudido por ser Brasileiro e por vestir a camisa.
Resultado? Economia de vento em polpa, política externa austera, tudo indo bem e o brasileiro, que antes tava interessado na Disney, começa a sambar e diz pro mundo: Ei eu sou o País da Bola, cadê minha Copa? E o mundo responde, aqui está – 2014 é de vocês. E como pra gente, todo abuso é pouco, já que ‘tamo’ com a Copa, por que não as Olimpíadas? E o mundo? O que responde? Páreo duro: EUA na disputa – com o poderosíssimo Obama fazendo campanha – Espanha também, com a Europa toda fazendo força, e o Brasil com o torneiro mecânico, pra alguns meio Bebum: tava na cara que a gente não levava. Levamos! 2016 é nossa!
Mas, tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. Drummond, que nunca soube de nenhum Lemon Brothers, acertou em cheio e uma Crise Mundial se abateu sobre nós. Abateu-se? Não foi bem assim... O nordestino, (grosseirão, segundo Caetano), que tinha ido lá atrás dar um passeio pelo mundo com empresários brasileiros, olhou pro País e disse mais ou menos assim “calma com o andor que o santo é de barro, a crise assusta, mas nem tanto. Vamos lá Brasil, vamos continuar investindo, vamos continuar comprando, vamos continuar acreditando no Brasil, por que antes de tudo vamos estar acreditando em nós mesmos”. Um alvoroço só: estava claro que o Brasil ia quebrar; se quebrava com qualquer vento torto nos tempos do sociólogo intelectual que entendia de economia, como não ia quebrar num vendaval que apareceu logo agora nos tempos do ignorantão?
Que incrível, o ignorantão tava certo: a crise era grande, mas não causou maiores estragos, e, o antigamente franzino, Brasil pôde bater no peito e mostrar pro mundo que foi o último a entrar na crise, e o primeirão a sair: já não éramos franzinos, somos, agora, Gigantes pela própria natureza.
2010 e as coisas são bem diferentes: inflação em 5,1%, dólar a R$ 1,70, PIB crescendo ninguém ainda sabe se pra 7; 7,5 ou 8%, desemprego em 6,2% e risco país em 174 pontos.
No fio da meada, a conseqüência é simples: a sucessora do nordestino eleita com 56 milhões de votos, o sucessor do sociólogo derrotado, falando mal do Brasil lá fora e ouvindo cala boca de mexicano e o Brasileiro mais do que “nunca antes na história desse País” tendo orgulho de ser VeeerdeAmarelôô.   

Um comentário:

  1. Eita que leitura bonita.
    Leitura de mundo ou vivência prática?
    Sem soberba se vai longe.

    Porém, nem tudo são flores... os espinhos (PMDB, campo majoritário - nem adianta levantar siglas) operam em alta. Relações escusas, gosto pelo poder, dificuldade de crítica ao governo, sociedade civil cooptada, falta de participação política mais qualificada...

    Eu acredito!

    P.S - quando eu li Pitáco, vi outro nome (vai saber pq... #atofalho)

    ResponderExcluir