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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Recato e carisma - ZUENIR VENTURA

Lendo o balanço dos 100 primeiros dias de Dilma Rousseff no governo, encontram-se os motivos que a levaram a atingir o fabuloso índice de 73% de aprovação do seu desempenho pessoal. Os observadores apontam vários fatores para justificar esse sucesso popular - principalmente os de natureza objetiva, como medidas políticas e econômicas. A grande surpresa da surpreendente Dilma, porém, o fator de que ninguém suspeitava foi o carisma. Quem diria? Sim, porque o que mais tem impressionado nela, por inesperado, é o modo de proceder, mais até do que as realizações concretas, ainda que tenha algumas a seu crédito, contrariando às vezes as expectativas gerais e a si própria. Em pelo menos dois casos isso ocorreu: no corte orçamentário e na suspensão dos concursos públicos, aos quais era contra em campanha. Além disso, encarou as centrais sindicais na discussão do salário mínimo, demitiu Emir Sader antes de admiti-lo e, no plano externo, deu ênfase à defesa dos direitos humanos e aproximou-se dos EUA.
Mas foi o conjunto de gestos e atitudes o que fez a diferença entre ela e seu descobridor. Quem não conhece a natureza humana, o seu gosto pela ultrapassagem, o peso do ego nas motivações e condutas políticas, acreditava que Dilma seria um genérico de Lula, uma espécie de "laranja" através do qual ele continuaria governando à distância. No entanto, sem se voltar contra o criador, como é comum, ela resolveu imprimir sua marca própria, estabelecendo distinções. Eu resumiria a peculiaridade do estilo de cada um, o traço do temperamento de ambos em uma palavra: protagonismo. O termo - um modismo derivado de protagonista e ainda não dicionarizado - não foi introduzido no vocabulário político por Lula, mas ele utilizou-o como marca registrada de comportamento.
Não é que Dilma não queira o protagonismo - que político não quer? -, mas quer de maneira oposta à de Lula, sem exibicionismo, sem a compulsão de aparecer a todo custo. Exemplos dessa conduta discreta foram observados em momentos como a visita de Obama, em que não quis brilhar mais do que o visitante, e no último fim de semana, quando foi ao teatro em Brasília, discretamente, sem chamar a atenção da imprensa, sem atrapalhar o espetáculo, quase despercebida. Já imaginaram a mesma cena com Lula? Ele subiria ao palco.
Na sua ambiguidade, o brasileiro gosta muito de efusão, mas também admira o recolhimento. Na pesquisa do Ibope não foi perguntado de que é feito o carisma da presidenta. Eu me arriscaria a supor que a resposta seria recato e firmeza.
Ela está apenas começando, mas é um bom começo para quem vai ter de enfrentar, ao que tudo indica, um ano duro de roer.

Um comentário:

  1. Gostei das observações feitas pelo Zuenir.
    De fato, toda a efusão encontrada no ex presidente, não será vista na presidenta Dilma.
    Vamos observando as cenas dos próximos capitulos!

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