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sábado, 11 de dezembro de 2010

Faça o que digo, mas não faça o que faço...

     Liberdade, liberdade, ô liberdade... Hoje falar em liberdade remete ao ideal levantado na construção do Estado Moderno entre os séculos XVII e XIX. É, aquela liberdade do liberté egalité et fraternité e que não por acaso é a mesma do Lesse fairlesse passairLe mond voir de lui memme: aquela liberdade que minimiza o papel do Estado, diz que todos são iguais e deixa ao poder econômico campo livre para ditar as regras do mundo. Ainda que por diversos motivos essa visão cruel de liberdade tenha se abrandado, o fato é que vivemos sobre o julgo dela. Isto mesmo, vivemos sobre o JULGO da "liberdade". 
     Aos quatro cantos do mundo, se grita pela liberdade de culto, opinião, política, de sexualidade, enfim, de expressão, expressão de nossa própria identidade. Grita-se pela liberdade como se ela fosse um direito absoluto e qualquer ataque contra ela, um mal irreparável. Esquecemos apenas que não há direitos absolutos - ora, para que alguém tenha o direito a falar, todos os outros deveram ter o DEVER de ouvir, ou ao menos absterem-se de qualquer conduta impeditiva do exercício daquele direito. A lógica é simples, para um direito um dever: óbvio.
      Nem tão óbvio para aqueles que sempre entenderam a liberdade enquanto privilégio seu. Outros não são os casos nacionais e internacionais de censura vindos justamente daqueles que "levantam" a bandeira da liberdade. 
     Na última semana foi preso o australiano Julian Assange fundador da WikiLeaks por crimes sexuais que teriam sido cometidos na Suécia, país onde a liberdade sexual beira absurdos, ao passo que nenhuma voz da grande imprensa mundial se levantou contra ao que parece ser uma perseguição sistemática. No Brasil, o jornal Folha de São Paulo está perseguindo judicialmente dois blogueiros pelo crime de se expressarem indo de encontro ao jornal, além de, há alguns meses, a colunista Maria Rita Kehl foi demitida do Jornal o Estado de São Paulo pelo que o próprio jornal considerou um delito de opinião, que em bom português significa "opinião contrária à minha".
        Sem querer adentrar qualquer dos episódios, o importante a frisar é o título, "faça o que eu digo, mas não o que eu faço": lá fora o Grande Império do Mundo que sempre se arvora o direito de libertar populações e mais populações (geralmente do Oriente médio, onde ficam as maiores reservas de petróleo do mundo) dos seus governos ditos tirânicos, subrepiticiamente,arma um circo para arbitrariamente prender um homem que fere seus interesses;  aqui dentro a impressa que se insurge contra a criação de um Conselho de Comunicação Social, aliás previsto no Art. 224 da Constituição, é a mesma imprensa que demite jornalista por ter um opinião contrária seus interesses (leia-se ao interesse da direita brasileira, que domina a comunicação do país) e é a mesma imprensa que persegue blogueiro, pra não deixar esses "tipinhos" dominarem o espaço. 
        Essa é a liberdade que eles propugnam, uma liberdade para si irrestrita, frente ao silêncio alheio. Esqueceram eles e esquecemos nós o que o próprio discurso deles dizia há trezentos anos atrás - a liberdade nos aprisiona, só há liberdade na lei - o que significa duas coisas, de um lado só o controle legal de conteúdos e ações da mídia poderá nos trazer liberdade de informação; de outro se não houver grito, se não houver crítica, se não houver fiscalização de todos, a liberdade será apenas uma palavra na lei...

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